quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Ate Churrasco já organizei!


Dia 22 de fevereiro

Um mes já foi. Faltam 5 semanas e o Brasil que me aguarde.

Já tomei meu espaço naquela cozinha, ganhei confiança e não penso mais em sair. Quero vencer esse desafio que parecia impossível, mas pouco a pouco parece estar mais fácil.
Entrosei com a turma aqui, menos um estagiário de merda que pensa que é dono da rua, mas na verdade não passa de um subordinado como eu.

Vamo que vamo!!
AMOR PAZ E CALMA!

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Dia  02 de fevereiro
Dia do mar!

Síndrome do Cu

Dedico este documento a todos os cozinheiros que sofrem desta terrível síndrome.
De que se trata?
Se trata de uma reação em cadeia. Assim que um superior na cozinha se enfeza com qualquer coisa, ele vai logo enrabar aquele que está abaixo do seu comando. No caso o segundo chef. Que em conseqüência, vai logo enrabar qualquer um que esteja mais próximo. Se a enrabada do comandante é forte, ela vem aumentada para o segundo evento. E assim vai, até chegar no ultimo pedaço de nada que toma uma abóbora grande inteira lá.
As vezes acontece que a seqüência é quebrada, e ao invés de carcada surgem pedidos estranhos e ordens sem pé nem cabeça!

Não é por mal, mas acontece. Inconscientemente na maior parte.

Muito bonito Zé! Muito bonito. O seu vizinho já deu falta do cabrito.
Você falou que ia dar uma peixada, bateu para a rapaziada que ninguém poderia faltar. Ninguém faltou, mas ao invés de peixe comeram cabrito. E foi nessa que a rapaziada está toda intimada a baixar no distrito!!

Eu estou pensando nela...
PAZ IRMÃOS!!!




Dia 03 de fevereiro

Ragusa – Sicilia

Tomo guaraná, suco de caju e goiabada para a sobremesa.

Relatos de uma primeira vez

Tudo em primeiro, primeira ou ao menos segundinha. Aqui é tudo primeiro. Eu quero aquela primeira. Quero a segunda e não sei onde foi parar a terceira que ainda não chegou. Saudades e sonhos. Coisas que já passaram e coisas que eu gostaria que tivessem passado. O sol me ajuda, a musica me ajuda, mas os italianos não.
Quero voltar para onde me querem bem.
Seja lá onde for. Depois do meu ultimo contato eu pensava que seria fácil como sempre foi. Mas eu não estou em casa. Eu não estou onde já foi fácil dimenticar. Estou num ambiente que me faz lembrar, e até estar junto em alguns casos. Presença insignificante. Será? Será que aquilo que eu ouvi era verdade? Será que era isso que eles queriam? Um jovem dizendo qualquer coisa só para acabar logo com aquilo e a pérola negra ali digital dizendo qualquer coisa que não lembro, ou não quero. Conversa? Aquilo não, aquilo foi um tiro seco. Seco no escuro. Eu me lembro certinho do que eu queria e do que eu não queria. E também me lembro do que para mim não faria diferença. Isso era parte do que não importava.
Agora eu entendo um dos mandamentos da bíblia! Vejam como a vida revela aquilo que esta escrito no livro sagrado.

Quero sempre mais e mais e mais, talvez seja esse meu problema, ou minha salvação!
Creio eu que está é a minha salvação.

Agora voltando ao assunto dos mistérios da cozinha, Lembrei-me que esqueci de tudo. Uma tentativa de conversa hoje com o chef virou motivo para um belo tapa no pé do ouvido. Técnico é claro.
Enquanto eu escrevo alguma coisa acontece com aqueles cozinheiros. Alguma coisa que não me parece boa. Não sei se é a falta de movimento que cria tensão ou se é o simples fato de que aquela cozinha está já um pouco estagnada. Me parece que não, mas eu sinto que é por ai. Novas técnicas e mudanças nas receitas acontecem quase que diariamente. A palavra é ``melhoramentos`` e isso realmente me fascina. O chef entra na cozinha diz para qualquer um o que ele precisa (provavelmente o que ele viu no sonho dele) e em poucos segundos, tudo que ele quer está pronto em cima da bancada. Ele nem tira a blusa de cima do avental e com o cachicol ainda no pescoço mistura uma coisa aqui, espreme um limão ali e depois com algumas ordens se retira e vai sentar para degustar aquela experimentação que é finalizada pelo responsável.
Existe um local naquela cozinha que se chama Passagem. E é ali que os pedidos são empratados e ali onde que o chef faz o controle, e é dali que saem os xingos e comes diversos. Ontem o Luigi estava a preparar um antipasto que é servido em uma espécie de xícara. O pure de batata que deveria ser bem cremoso e lúcido, estava um pouco duro e sem gordura. O chef ficou muito bravo e deu um arregaço ali na passagem.
Eu estava pensando em fazer um discurso na hora do almoço em que todos se sentam juntos para comer. Ali iria dizer algo que me daria muita satisfação poder dizer.
Seria mais ou menos assim: ``Eu estou muito feliz por estar aqui com vocês, e agradeço por estarem me ensinando tudo sobre está cozinha. É uma satisfação muito grande. Desde que eu era pequeno eu já dizia para minha mãe que iria vir para a Itália para aprender sobre a culinária italiana e agora que estou aqui, é um sonho que se torna realidade. Muito obrigado a todos, eu sou muito agradecido.``
Mais ou menos por ai.
Porém não consigo dizer. Não sei por que, normalmente seria normal, e não teria problema em dizer qualquer coisa que fosse. Eu não tenho problema em fazer nada e nem dizer nada. Sempre calculando as conseqüências. E mesmo sabendo que não haveria más conseqüências, pelo contrário, seriam boas, penso, não consigo dizer. Talvez porque não tem sido como eu esperava. O calor do povo do sul se torna um pouco um preconceito. ``Estrangeiro, você não fala, você fica quieto``
Eu devo ter tratado qualquer estrangeiro no Brasil mal para ser tratado assim.
Tudo bem, eu não me importo muito. Sempre seguindo eu vou. Eu vou, eu vou, para a casa agora eu vou!

Amor! E paz!



Dia 4 de fevereiro

Sempre no mesmo lugar.
Haverá um dia em que essa grosseria vai acabar!
Este dia será um dia de glória. O dia em que as pessoas tomam porres de bom humor e educação. Eu quero estar lá para ver, e quero participar ajudando os que querem entrar para a glória da conversa sem gritos e palavras feias, e com tudo com muita calma.
O que seria melhor? Fazer rápido e mostrar serviço, porém produzindo com baixa qualidade. Ou fazer com mais concentração e qualidade, porém perdendo mais tempo?
Meio termo não existe.
Eu prefiro fazer bem feito, mesmo que tome muito tempo.
Desde que eu cheguei em Ragusa e comecei a trabalhar no Duomo, não passou  um dia sequer que eu não lavei o fogão. Duas vezes por dia. Faz parte, eu sei, e faço sem reclamar. Agora hoje que eu cortei 3000 fios de spaguete a mão, não deu tempo de voltar para a cozinha e ajudar na limpeza. Ai já virou motivo de retaliação. ``Porra, 3kgs de massa não é nada... Porque você ta ai desde de manha e ainda não terminou essa merda... caraleo!``
Como faz então?
Calma! Tenha calma!

``A vida em seus métodos diz: calma! Vai com calma, você vai chegar. Se existe o desespero é contra a calma, e sem ter calma nada vai encontrar. Deus pai o criador criou com calma! E em sete dias muita calma demonstrou. Vocês ai! Tão discutindo tenham calma, basta só um sorriso, ele é de aviso e vem a calma! Pois até hoje sem haver calma o desencontro paga, no corre corre e no desespero nego até se mata. Vocês ai! Tão me ouvindo? Tenham calma.``

Calma, calma, calma, calma!


Calma na partida nas oficinas e postos de gasolina. Principalmente nas maternidades, hospitais e escolas. Calma na cozinha! Calma no salão!



quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Tem urubu na embaoo









Dia 01 de fevereiro de 2011


Ristorante duomo

Uma bela giornata

Assim que começar vocês podem dizer: Alô!
Ontem foi o dia de folga, e eu trouxe na Mara uma confecção de cerveja para casa.
Matteo: Ma tu sei malato?
Vou descrever um pouco e quem sabe isso não me ajuda a estar e restar.
De cima pra baixo.
Chef Ciccio Sultano: Tranqüilo, mas quando se enerva ninguém segura.
Angelo: Mais cheio, digamos, cheio das gordices e muito engraçado (parceiro do Ciccio) Não cozinha, é o manager. Sempre me vem fazer perguntas sobre os pratos brasileiros. Esteve no Brasil e se encanta com nossa cozinha, cultura e costumes. Como todos que visitam o Brasil.
Marco: Segundo chef, grosso, nada afetuoso e bravo( no mal sentido) porém são 20 anos de cozinha e tem muito a ensinar, pena que não gosta de fazer-lo. Fala um italiano que só ele e Deus entendem, isso quando não fala o dialeto siciliano. Cabo partido de segundo.
Pepe 1: Chef de partido de primos, pasta. E basta. Meu professor que está se esforçando para não meter um tapa no pé do ouvido. ``Paciência Pepe, eu to aprendendo...`` digo sempre.
Luigi: Antipasto. Meio que seguidor de marco. Na mesma linha, porém pensa que o brasiliano aqui é um escravo. O muleque parece que ta ligado no 220. A mil quando começa o serviço.
Matteo: Ex-antipasto, agora em sobremesas. Menino mais dedicado naquela cozinha. E também o que recebe mais enrabadas. Coitado... 20 anos, um curso de cozinha e muito xingo na orelha. Faz tudo certo para seu serviço e ainda mais um monte de coisa para todos os outros. Sabe muito sobre a cozinha de Ciccio e faz aquela merda andar. Me ensina tudo sobre pães e sobretudo do funcionamento da cozinha. Grande jovem!
Pepe2: ex sobremesa e agora em primi com Luigi. Um pouco arrogante comigo, mas engraçado. Começou aqui no Duomo 20 dias antes de mim e já esta mandando um monte, em mim claro, porque para os outros faz como eu, desce no magazino 20 vezes por dia. Como eu. O problema é quando quer dar uma de chef pra cima de mim. Va fanculo parceiro!
Adina: lava toda a porcada que nós fazemos... Sempre é a ultima a sair.
Ai em sala:
Claudio: Sommelie, fuma que nem um cavalo, alias todos ali fumam que nem cavalo, menos o matteo que é muito correto. Claudio é espirituoso e ta sempre de bom humor! Faz o controle de vinhos e não erra nunca. Senhor de respeito!
 
Giovanne e Giovanna: Garçons. Não tem muito o que dizer, acontece só que o Giovanne teve que se mudar porque chegou uma menina nova pra trabalhar e não tinha lugar pra ela dormir. Como ele é o que mora mais perto disseram para ele que teria que vazar. Levou metade da casa com ele...

Assim eu posso concluir,
Guglermo: Estagiário, ajuda todo mundo em tudo e não diz um píu. Só quando coloca a musica no rádio e começa a dançar, para a alegria da Adina! Vai para o magazino todo dia fazer as pastas frescas, segundo pedidos de Pepe. Ali fica um tempo sozinho fazendo as pastas concentrado. Come gotas de chocolate belga depois do almoço escondido em quanto trabalha sozinho. Não reclama mas quando recebe tarefa sobre tarefa não êxita em olhar feio dentro dos olhos de qualquer que for o mandão(menos Marco e o Chef, aqueles ali não se brinca. Ao menos que queira tomar uma facada no bucho). O que quero dizer? Guglermo, pela questa telha de batata por cortesia? Ok! Gugliermo, limpa essas cabeças de alho? Ok espera só eu terminar a batata ok? Gugliermo leva isso pro magazino por piacere? Ok depois da batata e do alho eu levo! Gugliermo trita essas beringelas? Ok... Ok...
Assim o serviço não falta. O problema é lembrar de meter a salsa na geladeira depois de levar, trazer, descascar e picar tudo!
Mas eu não deixo a desejar. Sempre aposto!
Por isso aos poucos eles começam a ouvir aquilo que falo. Um pouco de atenção, só isso que eu quero. Nada mais...
Já comecei a ajudar com algumas coisas em serviço. Quando chega os pedidos eu já preparo a roupa para os preparos de Primi. O que seria isso? Pesar as massas que eu faço, limpar os lagostins e camarões, e deixar tudo aposto para o Pepe preparar os pratos. ``Tra due minuti impratiamo due scampi, tre patrinostri e uno Nero.`` Sempre em ponto!

Frase: Juro que estou apaixonado, mas por ela eu sei que não sou amado.
Olha que o sol é tão lindo, lua tão cheia e o céu tão azul. Eu sei que você me despreza, não seja orgulhosa! Me dê seu amor.
Eu sou chegado também num mocotó!
Aconteceu quando o Marco preparava três pratos de maialino. Quando selava a carne do porco na frigideira quentíssima, eu fiz uma cara de desaprovação no sentido de que era tão bom aquilo que até me fazia mal! Marco me olha com cara ``Que cara é essa?`` Eu virei para ele e disse:
Ouve? Tssssssssss da carne para mim é musica!
Ele riu e eu acredito que foi ai que eu ``ganhei`` o gordo cavalo!


Espero só que eles não leiam isso. Estou certo que não, mas nunca se sabe...

Fora o serviço, fico feliz em receber mensagens de amigos e familiares!
Salve rapaziada de Sorocaba!
Também tenho falado com o Bárbaro, amigo de costigliole! Grande barbaridade! Fazendo sucesso na toscana! Toscana? Não lembro, acho que é Pisa. Não lembro, mas não importa.
Tenho pensado muito na minha casa e na minha família e amigos. Não vejo a hora de abraçá-los todos.
Meus sonhos estão cada dia mais estranhos... Uma noite dessas sonhei que pescava e que e afundava no lago junto com a boia e não conseguia pegar nada... Depois pessoas que eu amo surgiam e desapareciam no bar do pesqueiro... Minha nossa! A água era suja, mas se podiam ver os peixes na superfície andando sempre juntos pra lá e para cá. Na beira de uma auto-estrada. Estranho e sem sentido.

Agora o que parece sonho mas não é. Onde eu moro é ``pequeno`` e tem sido difícil encontrar aquele meu espaço que me é necessário. Quero dividir aquilo que vivo mas não dividir aquilo em que eu vivo. Hoje saíram mais cedo para o restaurante enquanto eu pegava gelo no porão e quando eu fui sair na chuva procurei o MEU guarda chuva mas não encontrei. Logo deduzi que tinham pego sem autorização. Vejam... minha vontade era dizer algumas palavras que não deveriam sem nunca ditas. Ao invés:``Olha meu amigo, este não é seu, esse é meu. Lembre-se disso, azul para dois! É MEU, não deve tocar mais! Ok?``
Tudo vira piada! Risada. Até quando eu enfiar o tal ``azul para dois`` no rabo de algum...
Tudo bem, eu relevo. Engulo sapos e pererecas (quem me dera
fossem pererecas de verdade) e não me enfezo. Não mesmo, e nem acumulo rancor. Isso eu faço dissolver na musica que não me abandona.